quinta-feira, 16 de julho de 2009

Apenas mais um...

Entro em casa e fecho a porta atrás de mim, suavemente. Nunca gostei de bater com a porta.
Depois do comité de boas vindas habitual - o meu cão sabe mesmo como me fazer sentir bem vinda a casa - largo a mala em cima da bancada da cozinha, pego na trela, nos cigarros e nas chaves e lá vou eu com ele à rua.
Sabe bem, especialmente agora no Verão, o passeio que dou com ele, nas traseiras do meu prédio. Estende-se ali um relvado salpicado por pequenas árvores, ainda em fase de crescimento algumas. Não é uma área muito grande, mas dá para soltá-lo um pouco e ele adora correr por ali, feito doido. Enquanto ele corre e salta e esfrega o lombo na relva, respiro fundo e encosto-me a um tronco a fumar um cigarro. Sabe bem este breve momento. Fecho os olhos e sinto uma brisa leve e fresca, contrastando com o calor que se faz sentir durante o dia. E ali fico, a olhar a lua e as estrelas, à espera que ele se farte de brincar sózinho.
E penso... Relembro frases, brincadeiras, trocadilhos, risos, músicas, circunstâncias, acasos, meias palavras... Principalmente, recordo o que gostaria de ter dito e não saiu. A mensagem vital que ficou sempre engasgada, a meio percurso e apenas ficou na intenção de "um dia sai". Creio que algumas vezes fui como que "impelida" a falar, como se estivesse a querer usar um saca-rolhas para que eu falasse...mas não falei...não saiu...limitei-me ao silêncio, como sempre...
Mas depressa sacudo esses pensamentos...não vai haver "um dia", tenho que me convencer disso. Tenho que aceitar que as pessoas apenas se cruzam connosco, não permanecem. Muito menos se não há qualquer razão por parte delas para quererem permanecer. Eu não falei, mas tb não ouvi...
Talvez se tivesse falado as coisas fossem diferentes...mas não falei, é um facto. E agora é tarde...
E é tarde mesmo, está na hora de ir para casa. Chamo o cão e de pronto se põe alerta com as orelhas no ar. Está lá na outra ponta do relvado, mas depressa chega até mim. Fica quieto enquanto lhe volto a colocar a trela e segue saltitando ao meu lado enquanto tomo o caminho de volta.
Mais um dia chega ao fim. Mais um dia que passou. Outro. Igual ao de ontem. Igual a tantos outros antes. Apenas uma diferença. A saudade vai crescendo e a dôr no peito aumentando.
Um dia passa. Há-de passar... Um dia...

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