quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ainda os cães...

Pois é, basta qualquer coisa para nos despertar para uma qualquer situação.
Não tivesse acontecido aquele triste episódio, anteontem, não me teria suscitado a curiosidade para procurar saber um pouco mais.
Na Expo, são roubados cães de grande porte, dóceis, que os donos tenham a pouca sorte de soltar um bocadinho para poderem passear em liberdade. São roubados, não para serem vendidos, mas para treinarem outros cães, também de grande porte, autênticas bestas demoníacas (só porque esta característica reflecte o carácter dos próprios donos).
São, depois, abandonados mortos (ou vivos, moribundos) em qualquer baldio.
Que povo é este??
Quem somos nós, afinal??

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Só para completar a mensagem de ontem, os senhores do canil municipal apareceram hoje, por volta das 10H30, supostamente para vir buscar "um cão moribundo que deambulava pelas ruas".
Funcionalismo público no seu melhor.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Hoje de manhã, quando saí à rua para ir beber um cafezinho e ler as últimas "desgraças" do mundo, deparei-me com um espectáculo no mínimo deprimente: um cachorro, denotando ser de raça imponente, jazia morto na berma do passeio. Uma vizinha que ía a passar disse que já tinham sido informado os serviços municipais para irem recolher o animal da via pública.

Detive-me perante tal imagem durante toda a manhã. De quando em vez, ía à varanda espreitar se o cão ainda lá estava. Por volta das 14H00 ainda não havia sinal de qualquer movimento.

Telefonei para a Junta de Freguesia, mas não tinham conhecimento de nada. Recomendaram que telefonasse para o Canil Municipal. Assim fiz. De facto, tinham instruções para recolher o animal e estavam só à espera que o motorista entrasse ao serviço.

Tive que me ausentar para uma entrevista e cheguei a casa por volta das 16H30. O corpo do cachorro já não estava lá. "Afinal, sempre vieram", pensei.

Mas não. Ninguém apareceu. Foi afinal um vizinho que o enrolou nuns trapos e o deitou no contentor do lixo.

Realmente, se não se dá atenção aos animais enquanto estão vivos, para quê tratar deles depois de mortos?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Como disse há uns dias atrás, faço parte das estatísticas "gordas" referentes ao desemprego no nosso país. Não sou formada em nada especial, mas sempre concluí o 12º ano na Escola Secundária da Cidade Universitária e tenho uma vasta experiência em diversas áreas. Hoje, fui a uma entrevista para empregada de uma mercearia (já fui cozinheira também, é a vida...). Chegada ao local, deparei-me com uma lojinha simpática, talvez um pouco mais simpática que a senhora que me atendeu.
Feitas as perguntas da praxe, a senhora lá me foi explicando as condições que propunha. Nem eram más, tirando o valor do ordenado (450 euros, sem quaisquer ajudas para alimentação ou transporte e ainda sem os descontos incluídos).
Tenho tido tanta dificuldade em encontrar alguma coisa que me renda mais que o subsídio de desemprego que pensei, cá para os meus botões, que enquanto não surgisse outra colocação mais bem paga, aquela daria para desenrascar(somos ou não o país do desenrasca??claro que somos!!).
Então, preparava-me para dizer à senhora que aceitava as condições e que me disponibilizava para começar já amanhã, caso fosse necessário.
Aqui é que aconteceu aquilo que nunca eu tinha sequer imaginado ser possível (será que é legal também...?): a senhora olhou demoradamente para mim, mirou-me dos pés à cabeça e torceu o nariz, dizendo: "Nã...a sra. começa amanhã e depois já não volta!". Perguntei-lhe o porquê de tal observação ao que ela respondeu: " 'Tá bem vestida demais para aceitar este trabalho." E ponto final! A sentença estava lida!
Ainda lhe disse que era natural estar bem arranjada, que não ía a entrevistas com um aspecto meramente desportivo, mas de nada adiantou.
Conclusão: para a próxima, visto os jeans mais coçados que tiver, se estiverem rotos, tanto melhor, caço uns ténis também a rebentar pelas costuras, visto um blusão de ganga bem velhinho (tem pelo menos 25 anos) e, é claro, nada de maquilhagem, ah, e já agora, vou fingir que o vento me despenteou...
Talvez assim, ganhe o direito a prover o meu sustento e o dos meus filhos...

sábado, 26 de janeiro de 2008

Acabei de ler num blogue de um amigo (A Civilização do Espectáculo) uma notícia horrenda.
Um homem matou a esposa à facada.
Não, não foi em Portugal. Mas podia ter sido. Já foi, aliás. Tantas vezes. À facada, à machadada, ao pontapé, sei lá de que maneiras igualmente macabras.
Infelizmente, sei o que é ser vítima de violência doméstica. Não consigo, no entanto, compreender o porquê dessas situações acontecerem. "As pessoas são maluquinhas, e aos malucos tudo se justifica", já ouvi comentar.
Maluquinha ando eu às vezes e não faço semelhantes disparates (normalmente, os "malucos" batem com a cabeça nas paredes, se o não fizerem é porque não são tão malucos e sabem que dói!).
É infame qualquer tipo de violência, esta que acabo de transcrever, acaba por ser (por vezes) o fim de um suplício para a pessoa sobre quem ela incidiu. É triste.
Viver é acertar aqui e errar acolá. Não tenho acertado muito, é a verdade. Mas cada vez que erro, dói como se nunca tivesse errado antes. Principalmente quando erro na apreciação do carácter de outras pessoas. Bem, não posso dizer que tenha errado sempre, mas aquelas em que "devia" acertar mais têm saído tiro ao lado.
Dou muito valor à força das palavras, mas cada vez me convenço mais que elas só atrapalham nessa apreciação de carácter. Nada valem, afinal. De que adianta dizer uma coisa e fazer o oposto?
As pessoas são isso mesmo, valem pelo que fazem, em silêncio, por vezes de um modo anónimo até.
Lá diz o ditado "palavras, leva-as o vento..."

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Provavelmente, não serão horas para estar a escrever, mas quero aproveitar enquanto me sinto enlevada.
Acabei de ver o filme "O Diário da Nossa Paixão".
Sou uma romântica incurável (que se nega a qualquer tipo de terapia), e já antes tinha ouvido falar deste filme. Só agora tive a oportunidade de o ver (não acredito em coincidências...).
Num mundo em que as pessoas só se preocupam consigo próprias, em usar joguinhos da treta para ver quem é que leva mais vantagem, é tocante a generosidade e o amor incondicional que dirigem este filme, desde o seu início e até à última cena.
Quizeramos, todos nós, ter na vida, uma dádiva tão sublime que nos permitisse, um dia, partir com a alma tão tranquila como partiram Allie e Noah.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Faço parte das estatísticas sobre o desemprego nacional, infelizmente, há cerca de um mês. Tenho corrido "quase" tudo, tentando de todas as maneiras que me são possíveis encontrar um trabalho que se compatibilize com a minha vida. Mas é, realmente, muito difícil.
Tenho deparado com situações no mínimo caricatas:
  • a entrevista marcada para as 10H00 e finalmente concretizada às 14H00;
  • a rejeição por ter demasiadas habilitações;
  • o não ter habilitações suficientes para um trabalho que sei fazer quase de olhos fechados;
  • o simples facto de ter já 40 anos (a gente vai perdendo qualificações com o passar do tempo, embora vá acumulando experiências, mas isso não serve de nada...);
  • a oferta do ordenado mínimo nacional para fazer trabalho de secretariado;
  • a exigência de carta de condução para uma vaga de telefonista.
Muitas outras há, estas são apenas uma gota no oceano.
O que vale é que "teimosia" é o meu apelido.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Para a minha filha

Fez hoje, às 02H35m, 19 anos que fui mãe.
Não existem no dicionário mundial quaisquer palavras que consigam descrever o momento.
Durante estes anos consegui passar valores e convicções que considero imprescindíveis para sobreviver nesta selva em que vivemos. Consegui desenvolver, por vezes com muito suor e lágrimas, uma relação que se adivinhava inabalável. A cumplicidade entre nós sempre foi muito além do cordão umbilical.
Hoje, essa relação está muito longe de ser o que já foi. Não consegui que o mundo não se metesse de permeio. Sinto que falhei.
Mas não vou desistir de reaver o teu amor, filha.
Sendo carne da minha carne, amo-te mais que a mim mesma.
Espero que, daqui a muitos anos, possamos ler juntas estas linhas com um sorriso nos lábios.
Somos levados a falsas interpretações durante a vida inteira. Em consequência, outras haverá que interpretamos mal. Por vezes o óbvio não é assim tão claro, seja devido às circunstâncias exteriores ou mesmo ao nosso estado de alma.
Magoamos quem mais queremos amar, sem nos dar-mos conta por vezes que sairemos mais magoados ainda.
Só há um caminho a percorrer. Reconhecer o erro, remediá-lo (não ficar só pela tentativa) e não cair novamente no mesmo. Se tudo isto for feito com alma e coração (coisa que muita boa gente nem sabe que existe), o desfecho será apenas um mal entendido ultrapassado.
Da dúvida nasce a discussão. Da discussão nasce a luz.
Que essa luz ilumine as nossas almas e aqueça os nossos corações, pois só assim vale a pena viver.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Pode parecer piroseira, mas não consigo viver sem som. Seja o silêncio absoluto (como eu adoro...) , seja a doce melodia de um chilrear, seja uma qualquer música. Quantos de nós já ligaram a aparelhagem para afastar os fantasmas? Acho que todos nós já o fizemos.
Hoje tou numa de Alcione e Bethânia. Deus, como me faz bem ao espírito estas duas vozes, estes poemas maravilhosos, até parecem falar directa e exclusivamente para mim. Sinto-me importante.
Haja música.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Após ter sido criado há já alguns dias, só hoje me decidi a, finalmente, iniciar a escrever no meu blog. Apenas algumas reflexões.
Tomei conhecimento de duas situações que, embora não sejam originais, acabam por sê-lo no sentido em que recaem sobre duas pessoas que me são muito próximas. Daí, o meu choque e a minha tristeza.
Tenho um amigo que vive na margem sul. Fomos colegas de trabalho há cerca de 10 anos e tivemos cerca de 7 anos sem saber nada um do outro. No entanto, nem o tempo nem a distância fizeram esmorecer a nossa amizade. Aliás, por isso mesmo, reatámos as nossas cavaqueiras antes tão frequentes. E foi numa dessas cavaqueiras aquecidas por um cafezinho que fiquei a saber que, esse meu amigo, outrora um bon vivant apaixonado por tudo o que fosse mulher bonita (ele apaixonava-se perdidamente mesmo!), casou e já é pai de um casalinho adorável.
Fiquei feliz por ele, claro, mas essa felicidade depressa se esmoreceu. Seria de esperar que, aos 30 anos, casado há 5, com dois filhotes, um emprego estável e a vida orientada, esse meu amigo se considerasse um homem feliz. Mas não. Tornou-se numa pessoa extremamente solitária, uma certa amargura que não consegue disfarçar com o sorriso matreiro que sempre teve. Afinal, após tantas oportunidades que teve, acabou por casar com uma mulher fria, egoísta, ao mesmo tempo uma excelente mãe e óptima dona-de-casa. O mais caricato, é que ela sempre foi assim. Perguntei-lhe porque tinha então casado com ela, como é que tinha sequer olhado para ela uma segunda vez (logo à primeira viu como era). Não soube dar uma explicação minimamente lógica, apenas que tudo estava bem porque estava a acompanhar o crescimento dos filhos, o resto não importava, e terminou com um encolher de ombros. O meu choque foi precisamente esse encolher de ombros, esse comodismo, esse "não vale mais a pena".
A segunda situação é também com uma amiga. Como não tenho irmãos nem irmãs, esta minha amiga veio preencher esse vazio. É com ela que falo como se falasse comigo própria. É mais velha apenas dois anos. Já ela, mesmo tendo irmãos e irmãs, é como se não tivesse, e é comigo que também se sente à vontade e com confiança suficiente para abrir a alma.
Casada há já 15 anos (mais ou menos), começou por ter uma vida minimamente feliz, como se costuma dizer, uma vida normal. Após nem ela sabe bem dizer o quê, começou a haver um afastamento gradual e crescente entre ela e o marido, até chegar ao ponto de ambos viverem sob o mesmo tecto e cada um faz a sua vida. Parecem dois hóspedes de um hotel. As únicas coisas em comum são a casa, a gata e a pérola, ou seja, a filha de ambos.
Eu nunca tive um relacionamento para além do cordial com o marido da minha amiga, não sei explicar porquê. Seria de esperar que sendo ela minha irmã de coração, fosse ele meu cunhado, mas nunca consegui ir para lá do "olá, boa tarde". Não posso, de modo nenhum, dizer que é ele o culpado deste estado lamentável a que chegaram as suas vidas, mas também não posso dizer que ele teve um papel muito decisivo.
Triste é pensar que a minha amiga está com uma depressão terrível porque, para além de ter perdido o emprego recentemente, não tem aquele ombro amigo que deveria ter para apoiá-la neste momento tão complicado. E por muito que a minha amizade possa significar para ela, não substitui nem de perto nem de longe essa lacúna.
Depois de tomar conhecimento destes dois casos, dei por mim a pensar...em mim. Com 40 anos, não posso também dizer que seja uma pessoa feliz. Sózinha há já algum tempo, iniciei muito recentemente uma relação que nada tem de convencional, seja pela distância geográfica que nos separa (cerca de 300 km), seja por tudo o resto, que agora não interessa. Mas nem por isso posso dizer que estou feliz. Quando passo o dia a correr atrás não de uma realização profissional mas de uma sobrevivência, chego ao fim do mesmo e com quem partilho esse meu dia? Tenho uma qualquer preocupação, com quem a partilho? Tenho apenas uma anedota para contar, com quem vou dividir a minha gargalhada?
Mas eu não tenho realmente com quem partilhar estes pequenos nadas, agora eles têm, ou deveriam ter pelo menos. Chego a questionar o que será pior (ou melhor). Será caso para dizer que "mais vale só que mal acompanhada"? Não sei, talvez.